Nelson Mandela



Quanto vale um minuto com um Prêmio Nobel?




Nelson Mandela


        Estávamos eu, Mara Maravilha e dois seguranças, Ricardo Casali e Odair, junto ao elevador do Copacabana Palace Hotel, no Rio de Janeiro, aguardando a porta se abrir para subirmos. Casali e Odair, ambos de terno, como sempre, impecáveis em sua missão de resguardar a integridade física de uma estrela. Mara estava no auge da carreira. Odair é um mulato elegante, pele boa e cabelo curto. Tanto Odair como Casali, de tão elegantes, confundiam qualquer um. Sempre de terno, com arma na cintura, embora ninguém desconfiasse.
       Faltando alguns segundos para a porta abrir, ainda estávamos somente nós quatro, eis que adentra na recepção do hotel um grupo com uns vinte homens, de terno, quase todos de cor negra. Quando o elevador abriu, a impressão que tivemos foi que iriam tomar a nossa vez.       Mas, Casali e Odair, como excelentes profissionais fizeram valer o nosso direito de adentrar o elevador. Especialmente Odair que, confundido como alguém do grupo - é exatamente por isso que cito a cor de Odair e do grupo - ele simplesmente, com seus 1,90 cm de altura, numa ação rápida abriu os braços, tal qual asas de galinha, protegendo-nos e nos encaixando no elevador. Passado o sufoco, já dentro, demos de cara com Nelson Mandela acompanhado de Leonel Brizola, que gentilmente, apresentou Mara como uma artista cantante para Mandela, que soltou um sorriso e gesticulou com a cabeça. Conosco no elevador, alguns assessores de Mandela e/ou Brizola. Muitos ficaram de fora. Não havia mulher no grupo. Um deles apenas pediu para que o elevador fosse direto para o último andar, onde já sabíamos, fica a suíte presidencial, tão usada e decantada por celebridades internacionais como reis, rainhas, astros do futebol, cinema e da música pop.  
       Enquanto o elevador subia, observei o tempo inteiro o semblante de Nelson Mandela, sem piscar os olhos. E seu semblante me surpreendeu. Em momento algum ele demonstrava ter passado vinte e sete anos numa prisão, defendendo causa negra. Algo inimaginável aos olhos do ser humano. Alegre, descontraído, simples, sorriso maroto. Ao se despedir, gesticulou com a mão e soltou um sorriso, que carrego para sempre.
       Enfim, um dia para jamais esquecer. 
       O ano era 1991, eu assessorava Mara e estava desprovida de equipamento fotográfico. Mesmo que tivesse, talvez não houvesse foto nenhuma, pois estávamos enebriadas com a presença de Nelson Mandela.
       Sem foto, portanto, apenas um dia que fica registrado para o resto das nossas vidas.
       Em 1993, Mandela foi o ganhador do Prêmio Nobel da Paz e, no ano seguinte, eleito o primeiro presidente negro da história da África do Sul e acabou com a segregação racial.  
       Em junho de 2013, reencontrei Casali. Depois de mais de vinte anos, surgiu o assunto Nelson Mandela. E relembramos cada detalhe daqueles momentos mágicos.              
       Agora, Nelson Mandela descansa no Senhor. Dorme com o sonho realizado: negros e brancos, sem barreiras.
       Vai o homem, ficam suas ideias e ideais. 
         

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