Arte da capa de Augusto Paiva
Apresentação do livro Tibau de Todos os Tempos - Volume I
Pesquisando sobre
Tibau no arquivo do centenário jornal O
Mossoroense, são poucos os registros anteriores à primeira metade do Século
XX e encontramos duas razões: a primeira talvez porque Tibau pertencia ao
estado do Ceará até 1920; e segundo, porque não havia estrada de rodagem até
1932, o que dificultava o percurso entre Mossoró e a então Vila de Tibau.
Nesse tempo, Areia
Branca era mais presente nas páginas dos jornais de Mossoró, havia a estrada
para Areia Branca, motivada pelo grande volume de negócios em consequência do
porto, por onde chegavam e saiam as mercadorias comercializadas em Mossoró e
região oeste. Então, o fluxo de pessoas entre Mossoró e Areia Branca, trazendo
e levando notícias, era bem maior.
Desde que Henry
Koster - um português nascido em 1793,
filho de pais ingleses - passou por Tibau, em 1810, montado em cavalo,
em sua passagem pelo nosso litoral, escreveu sobre os morros de areia colorida,
Tibau tem sido citada e cantada pelos apaixonados por seu mar limpo e falésias.
O texto de Henry Koster sobre Tibau foi publicado em jornal inglês, em 1816.
Depois, ele o incluiu no livro Travels
in Brazil.
Pois bem, a partir do texto de Henry Koster, decidi pesquisar outros
autores ou pessoas comuns que escreveram sobre Tibau. Juntei meu acervo de
livros produzidos no Rio Grande do Norte, mais os que garimpei nos sebos - a
maioria publicados pela Coleção
Mossoroense, do abençoado Vingt-un Rosado - e trouxe para Tibau, onde li mais
de trezentos deles, filtrando tudo o que foi publicado sobre Tibau.
Pela leitura dos livros e jornais antigos, percebe-se o tratamento que
davam a esse pedaço de chão. Até a década de 1920, é ‘povoado de Tibau’.
Depois, ‘pitoresca estância balneária’. A partir da década de 1950, ‘praia do
Tibau’. E até sua emancipação, em 1995, ‘Vila do Tibau’.
A partir do
episódio da invasão do bando de Lampião a Mossoró, em junho de 1927, Tibau
passou a ser considerada um excelente refúgio, servindo de abrigo às famílias
que preferiram se esconder a correr o risco de morrer como heróis da
resistência a Lampião.
Antes de 1932,
quando construíram a estrada de rodagem, Tibau era citada como um lugar
distante, quase inalcançável, ou seja, uma aventura sair de Mossoró para Tibau.
A pé, são até hoje, exatamente, doze horas. Vinha-se de cavalo, jumento ou
carro de bois. A partir de 1915, quando inauguraram o primeiro trecho da
estrada de ferro, entre Areia Branca e Mossoró, surgiu a opção de vir de trem
até Porto Franco, onde pegava-se uma charrete ou carro de boi e a viagem
prosseguia à beira mar.
Os primeiros
veranistas, da década de 1890, só alcançavam Tibau a cavalo. A partir de 1900,
vinham em carros de bois. Saíam de Mossoró num dia e chegavam no outro, sempre
pernoitando em alguma fazenda no meio do caminho.
Através dos poucos
registros na imprensa, tomamos conhecimento de como Tibau passou a ser uma
opção de lazer ou descanso. Esses desbravadores pioneiros nunca receberam
homenagens do poder público tibauense, não são patronos de ruas ou prédios
públicos, como acho que mereciam. Mas Tibau tem nome de mossoroenses como
patronos de ruas só pelo fato de ter sido proprietário de casa de veraneio.
Esse livro permitirá que o poder legislativo tome conhecimento da história
desses homens e mulheres e suas relações e vínculos com Tibau para, quem sabe,
merecer homenagens futuramente.
Foi o cearense
doutor Castro, primeiro médico a atuar em Mossoró, que propagou que as águas e
o clima de Tibau curavam algumas doenças. E, assim, passou a ser o primeiro
relações públicas de Tibau. Indicou o tratamento, por exemplo, ao poeta e
escritor, Henrique Castriciano que, tempos depois fundou a Escola Doméstica de
Natal.
O trabalho de pesquisa não ficou somente nos livros
e jornais. Em 2009, passei a apresentar o programa Tibau de Todos os Tempos, na FM
Tibau, entrevistando nativos e veranistas sobre Tibau, claro. Criei no
Facebook um grupo com o mesmo nome do programa e passamos a ter acesso a
inúmeras fotografias de Tibau, a partir da década de 1930, através da
contribuição dos membros que foram buscá-las no fundo do baú.
As fotos revelam uma Tibau com morros, casas de
taipa, cobertas de palhas, os Pingas, as falésias, a famosa Furna da Onça ou
Buraco da Sereia; da Tibau onde famílias de empresários, médicos, funcionários
públicos e profissionais liberais passavam meses com suas famílias, numa Tibau
sem energia elétrica, água encanada,
automóveis, ultra-leves, bugres, barcos, jet-sky ou quadriciclos. Essas famílias
vinham em busca de tranquilidade, de uma vida simples, onde seus filhos
pudessem correr à beira mar, brincar entre os morros de areia colorida,
caminhar com os pés descalços nas ruas de areia, brincar com os animais,
jumentos, carneiros e bodes; com aves como galinha, galo e pintinhos. Podiam
ouvir o cantar dos pássaros, chupar cana, comer tapioca, beiju, gelé de côco,
tomar água de côco, dentre outras delícias oferecidas por crianças e jovens em
meio às casas dos veranistas.
Independente da conta bancária do veranista, em
Tibau, sua família levava uma vida comum dentre os nativos: dormia em redes,
até nos alpendres, a comida era preparada em fogão à lenha, bebia água das
vertentes, comia o peixe pescado em jangadas que voltavam no final da tarde,
onde se misturavam veranistas e nativos, para alegria da garotada, curiosa para
ver aqueles a quem, Raimundo Nonato denomina de vaqueiros do mar.
Até muito pouco tempo, as famílias ainda vinham a
Tibau com essa intenção, de férias para dias diferentes da vida que levam na
cidade grande, de poder dormir sem aparelho de ar condicionado, sem
micro-ondas, sem telefone ou qualquer meio de comunicação. Mas os hábitos vão
mudando, de acordo com as gerações. Já não se anda mais com os pés descalços,
já não há mais serenatas. Resta a saudade daqueles tempos em algumas famílias
tradicionais que ainda mantêm residências à beira mar ou no entorno da Capela
de Santa Teresinha.
As casas de taipa deram vez às mansões e
apartamentos – inclusive em condomínios fechados – com aparelhos de telefone
celular, internet, antena de TV por assinatura e tudo o que o mundo moderno
eletro eletrônico permite, com exceção de uma ou outra como, por exemplo, a do
casal Ildérica e João Cantídio, construída em 1929 e ainda mantida em seu
estilo original.
Mas os avanços como, por exemplo, a estrada
asfaltada em pista dupla reduzindo o tempo da viagem para, no máximo, meia
hora, ainda não entrou na mente de muita gente que mantém a casa fechada de
fevereiro a dezembro. É como se Tibau ainda fosse muito longe ou algo como um
projeto de longa distância. Não usufruem da natureza, do mar e do céu limpos
disponíveis de janeiro a janeiro. Com raras exceções. Alguns mudaram para Tibau
e vão diariamente trabalhar em Mossoró.
Esse livro,
portanto, reúne fotos, textos de livros, revista, jornais e redes sociais, onde
escritores, jornalistas, médicos, pesquisadores, pensadores, poetas, formadores
de opinião ou pessoas comuns citam Tibau. Cada texto é precedido de uma curta
biografia e comentário acerca do autor para ajudar o leitor a situá-lo. Não podia
também faltar músicas em homenagem a Tibau.
Reunimos fotos e as
primeiras imagens registradas de Tibau, são da década de 1930, período em que o
fotógrafo cearense, Manuelito Pereira, migrou para Mossoró. A maior parte
dessas fotos estão sem os créditos, porém, agradeço quem possa nos informar da autoria para
registrarmos em futuras edições.
Esses registros
fotográficos reúnem membros das famílias Escóssia, Cantídio, Nogueira Mendes,
Andrade Freire, Gadê, Monte Rocha, Ferreira Leite e Rosado Maia e alguns –
poucos – nativos.
Sou grata a quantos
facilitaram a pesquisa, aos que atenderam à minha solicitação de textos e
material fotográfico e aos que apoiaram através de um simples incentivo.
À Misherlany Gouthier, que
digitou todo esse material e também colaborou com a pesquisa e material
fotográfico, minha eterna gratidão.
Agradecer também ao
nobre colega, Carlos Adams, pela revisão final, como tem feito nos últimos onze
anos, em todos os meus livros publicados. .
À Consuelo Freire
que, de Brasília, colaborou dando tratamento ao material fotográfico aqui
publicado com melhor qualidade.
Ao inesquecível e
eterno Vingt-un Rosado, por tudo que fez para deixar registrado em livros e
plaquetes, páginas da história de nossos dias, de nossos antepassados, costumes,
cultura, fatos e curiosidades da nossa província. O Rosado que mais fez diferença na história
recente do Rio Grande do Norte e está eternizado, jamais será esquecido ou
deletado pelas gerações futuras. E, por isso, o maior mossoroense de todos os tempos.
Como saber dos outros sem a publicação dos feitos deles? Você foi mil, merece a
devoção, o respeito e as homenagens de tantos quantos souberam, sabem e saberão
de sua existência. Alguém que conheci na infância - fomos vizinhos - e Deus me
deu o privilégio de regressar à Mossoró, a tempo de uma salutar convivência em
seus últimos anos de vida.
Esse livro é uma viagem no tempo,
dito por quem viveu todas as fases de Tibau.
A pesquisa continua
para futuras publicações e será um prazer receber colaboração de quem desejar
contribuir para o enriquecimento da história de Tibau, através de textos
publicados ou que estejam perdidos em alguma gaveta ou baú.
Esse é o primeiro
de uma série de livros dedicados a Tibau, com entrevistas numa troca de
irmandade entre nativos e veranistas.
Lúcia
Rocha luciaro@uol.com.br
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