Centenário de Obery Rodrigues

Na sexta-feira, dia 20 de setembro de 2024, os herdeiros de Francisco Obery Rodrigues - filhos, genros, noras, netos e bisnetos - comemoraram o centenário de seu nascimento, ao lado de amigos, ex-colegas de trabalho, conterrâneos de Mossoró e leitores, em noite agradável no Auditório Dorian Jorge Freire, na Estação das Artes, com grande comparecimento, inclusive, de representantes das principais Academias de Letras da cidade. Francisco Obery Rodrigues foi um grande memorialista que deixou forte contribuição para pesquisadores e historiadores potiguares, pois produziu mais de uma dezena de livros, registrando seu tempo e sua geração, o que viu, ouviu e testemunhou. Este talvez seja o principal papel do escritor, não somente escrever por escrever, mas deixar história para a posteridade, não somente para servir de material de pesquisa para novos livros, mas posterior estudos sociológicos, pois o bom memorialista registra tudo. No caso da obra de Obery, que conquista o leitor por registrar a forma de vida, inclui-se ai o modo de vestir, o vocabulário, experiências passadas, sobre os tipos populares, homens e mulheres de destaque em diversas áreas coletivas como administrativas, educacionais, sociais, culturais, beneficentes, eclesiásticas, padrões de consumo e comportamento em todas as épocas em que viveu. Obery descrevia figuras públicas importantes como por exemplo, políticos e donos de empresas, com a mesma elegância com que descrevia os agregados da casa dos pais, gente simples, subservientes e sem instrução nenhuma. E por que trago esse assunto? Porque a região oeste potiguar tem dado forte contribuição para a geografia humana do Estado do Rio Grande do Norte. Tivemos em Francisco Fausto, natural de Areia Branca, que escrevia artigos sobre as origens de Mossoró publicadas em O Mossoroense, depois editados em livro. Tivemos um Raimundo Nonato, de Martins, que na primeira década do Século XX chegou em Mossoró menino ainda; Raimundo Soares de Brito – Raibrito – natural de Caraúbas, chegando em Mossoró aflorou também o desejo de deixar sua marca registrada como escritor, historiador e memorialista. Obery, embora com raízes cearenses, era natural de Mossoró, incentivado pela mãe, desde criança tornou-se um grande leitor e, consequentemente, grande observador da cena urbana e integra a galeria destes memorialistas, vindo a se juntar a outro conterrâneo, Vingt-un Rosado, que aos vinte anos de idade, lançou o que seria o primeiro livro sobre Mossoró. Obery, já idoso, após a aposentadoria e distante da terra natal, dedicou-se a passar para o papel lembranças e imagens de uma meninice feliz, no centro da cidade, aonde nasceu segundo ele, numa tarde luminosa e quente de 20 de setembro de 1924. Três anos antes da invasão de Lampião, data maior e mais comemorada na cidade. Não recordo quando e como descobri a obra de Obery Rodrigues, há menos de dez anos, passando a admirar aquele jeito de escrever e os assuntos abordados, fazendo com que adquirisse sua obra a partir de então. Os escritores, Raí Lopes e Mário Gerson, ‘apresentaram-me’ via contato telefônica a esse senhor, já com mais de oitenta anos de idade, bancário aposentado, foi gerente do Banco do Brasil. O homem de números havia se transformado em homem de letras, numa clara demonstração que teve forte base vernácula. Não sei em que momento, veio a decisão de conhecê-lo, o que aconteceu em 2015. Assim, foi natural pegar a estrada exclusivamente para isso e passar uma manhã ou tarde no aconchego de seu confortável apartamento, foi bênção. A partir de então, outras visitas e muita troca de ideias em contatos telefônicos ou via e-mail. Era como se estivesse diante de Raibrito ou Vingt-un, em seu mundo e espaço - biblioteca, ou melhor, hemeroteca - para surpresa, ele mantinha grande acervo de jornais e revistas publicados desde seu tempo de menino de calças curtas. Por absoluta falta de espaço preciso encerrar o assunto, agradecendo e parabenizando aos envolvidos na organização do evento. Comemorar centenário de alguém que fez por merecer entrar na galeria de imortais em nossas mentes não é para qualquer um e Obery Rodrigues com paciência e obstinação pesquisando em documentos antigos com o objetivo de trazer histórias de um passado recente deixou enorme contribuição na jornada de pesquisadores, especialmente, da geografia humana para a produção literária e futura geração de memorialistas.

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