Elizabeth Negreiros

Elizabeth admira o quadro com Rafael Negreiros

Evento de doação da biblioteca de Rafael Negreiros


No dia 28 de outubro de 2011, participei de um evento inusitado. A doação de uma biblioteca particular para uma escola. Dona Elizabeth Negreiros, viúva do empresário e escritor Rafael Negreiros, resolveu compartilhar o acervo de mais de mil livros deixados pelo amado esposo e o fez na escola onde ele e seus filhos estudaram, o Colégio Diocesano Santa Luzia, em Mossoró, uma instituição de ensino secular. Elizabeth Negreiros há muitos anos havia doado a primeira máquina de escrever do Diocesano, quem lembrou isso sob forte emoção foi a professora Raimunda Almeida. Durante o evento, dona Elizabeth fez um discurso emocionante, segue: 



Reverendíssimo Bispo Diocesano Dom Mariano Manzana,

      Reverendíssimo Padre Sátiro

      Prezados alunos

      Meus senhores e minhas senhoras


Hoje poderia ser mais um dia comum na minha vida, restrita as minhas atividades diárias, mas fez o destino que mais uma vez cruzasse os umbrais desta instituição de ensino secular, onde aqui abeberam-se de conhecimentos o meu marido e os meus filhos, todos aqui estudaram, brincaram, brigaram se entenderam com os livros, se complicaram com a matemática, mas estudaram, e como estudaram, não eram os primeiros colocados, mas aqui formaram a base construída num alicerce que os forjaram ao meu marido e aos meus filhos, por toda a sua vida.

O Colégio Diocesano Santa Luzia, tão bem representado pela sua figura maior, o Padre Sátiro, por Mundinha Almeida e pelos seus professores e alunos, tem dado a Mossoró e ao Brasil, o que há de melhor na intelectualidade e no pensamento, é um colégio brilhante em seus professores, não citarei nenhum para não cair no esquecimento que às vezes a idade nos trai. São mais de cem anos, um século, educando gerações de pais e filhos e netos e por aí afora, ajudando e participando na construção desta grande nação que é o Brasil.

Sátiro, além de compadre e padre, é também meu amigo, era amigo de Rafael e de todos os meus filhos, e vem dirigindo esta entidade não como administrador ganhador de dinheiro e fazedor de negócios, mas vem dirigindo esta entidade de ensino com o coração, onde muitos estudaram e deram apenas o seu agradecimento, porque o dinheiro era curto e nem tinham de onde tirar, todo o sertão, quase toda a zona oeste e Mossoró inteiro passou por aqui. O Colégio Diocesano e Padre Sátiro se fundiram, como o aço toledano milenar, são uma só pessoa, um só espírito, é difícil imaginar o Colégio Diocesano sem Padre Sátiro e Padre Sátiro sem o Diocesano. Sátiro, meus parabéns, ser educador é mais que se dar, e dirigir a educação então é sagrado, é coisa de padre mesmo.

Rafael, meu marido, que conheci quase ao nascer, nasci vendo Rafael, vivi vendo Rafael, sonhei a minha infância e adolescência ao lado de Rafael, depois casamos, tivemos filhos, família grande, seis filhos, cinco homens e uma mulher e sempre ao lado do meu querido amigo e marido Rafael, a luz do quarto ficava acesa na minha cara, ele deitado lendo, sempre lendo, lendo noite adentro, às vezes pela madrugada, e os livros se amontoando, quando casamos ele já levou um bocado de livros, e depois foi comprando e lendo, guardava-os depois por algum tempo, se alguém queria emprestado era na hora, podia levar,  tinha prazer em que o povo lesse. Um dia, reclamei que não devolviam os livros e ele mandou fazer um carimbo: “Este livro pertence a Rafael Negreiros, é favor devolver”. Portanto, senhores alunos, quando vocês virem este carimbo, não se assustem, não devolvam a Rafael, mas sim, a Biblioteca Cônego Estevão Dantas, aqui do Diocesano.

Agradeço a presença de todos, discurso longo torna-se chato e cansativo, portanto espero que todos vocês tenham um bom proveito da leitura, e garanto, vocês terão uma boa leitura, que os olhos que já leram estes livros tinha o coração vocacionado para o bem e tinha uma capacidade de amar que me apaixonou a vida toda.

Muito obrigada

Elizabeth Fernandes de Negreiros

Comentários

  1. Que lindo gesto. Parabéns pela doação, e quando eu for a Mossoró desejo ir até o Colégio Diocesano conhecer esta biblioteca e toca nos muitos livfros que Rafael Negreiros leu e estudou noites e mais noites.

    Mané Beradeiro

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