Dia do Professor





O Dia do Professor é uma excelente oportunidade para reflexão sobre aquele ou aquela que nos encaminha na vida, fora do lar. Especialmente agora, em que a profissão de professor tem sido a mais perigosa, devido agressões físicas a que estão submetidos, com direito a imagens exibidas em redes sociais.
Neste Dia do Professor também é uma oportunidade de relembrar a figura de Tia Adelzira, irmã da minha mãe, também professora, pois Tia Adelzira faleceu exatamente num Dia do Professor, em 2006, aos oitenta e seis anos de idade.
Ela nasceu em 1920, no Sítio Riacho do Meio, em Pau dos Ferros. Foi a primeira das filhas mulheres a demonstrar desde cedo o interesse de ser professora. Logo aprendeu a ler, lia tudo o que encontrava, inclusive um jornal da capital, que o irmão levava, em visita aos pais.
Quando passou a estudar em escola pública em Pau dos Ferros, precisava atravessar o açude em uma canoa, na companhia de uma irmã três anos mais velha. O canoeiro durante a travessia, sempre proseava dizendo: "Hoje a canoa vai virar", para desespero das duas, que guardavam segredo com medo do pai trancar a matrícula.
Por volta dos seus quinze anos de idade, a família migrou para Mossoró, um centro maior, aonde Adelzira seria encaminhada para dar continuidade aos estudos. Ela agarrou a oportunidade, formou-se na Escola Normal de Mossoró e foi presenteada com o anel de formatura pelo irmão Cirilo Alves Cabral, seu tutor.
Adelzira inspirou as irmãs mais novas a seguir na nobre missão de lecionar: Francisca Alves Cabral, a Chiquinha; Guiomar Alves Cabral, a Guió; Ana e Inalda. Das cinco, três conseguiram concluir a Escola Normal e duas graduaram-se em Pedagogia. Três, inclusive ela, foram destacadas diretoras de escolas públicas; uma foi secretária de educação e chefe do DIRED - Diretoria Regional de Ensino e Desporto. Uma filha de Adelzira foi diretora de uma grande escola estadual, chefe do DIRED e pró-reitora de universidade pública. Um filho médico foi diretor da Faculdade de Medicina pública e lecionou na mesma. 





         Inalda elogia a irmã musa: "Ela sempre gostou de ensinar a ler e escrever a qualquer um que aparecesse". E assim, Adelzira iniciou uma saga de irmãs professoras, ainda hoje reconhecida na cidade, registrada em livros de diversos autores e inspirou também a nova geração da família Cabral. São filhos, netos e sobrinhos lecionando por todo o país, inclusive na região Sudeste.
Tia Adelzira e suas irmãs exerceram a profissão de professora, num tempo que não volta mais, quando havia respeito entre alunos e professores, quando este era considerado uma autoridade e um leme na condução e encaminhamento do futuro de crianças e adolescentes.   
Ser professora, era poder desenvolver uma atividade fora de casa, muitas mulheres se libertaram de viver à custa do pai e de marido, quando o mercado de trabalho era fechado para outras atividades profissionais.            
       Adelzira Cabral Freire casou-se com o comerciante João Francisco Sobrinho, o Juca Freire. O  casal teve oito filhos, todos graduados, e deixou seis netos médicos. 
       Bendito Tia Adelzira, que ainda criança, ao criar o hábito da leitura, inspirou os pais e irmãos mais velhos a mudar a trajetória da família, que se arriscava a ser mais uma a sobreviver da agricultura no semi-árido nordestino. Eu, por exemplo, não estaria graduada e escrevendo essas palavras. Possivelmente, estava fadada a ser uma semi-analfabeta, lá em Pau dos Ferros, aonde ficaram nossas origens. Sobrevivendo de quê, não sei.
         Obrigada, Tia Adelzira.   

                              
         A seguir, entrevista da professora Adelzira Cabral Freire ao programa Mossoró de Todos os Tempos, apresentado pelo professor Milton Marques, aonde ela conta sua trajetória. Esse programa foi gravado em maio de 2006. 



Comentários

  1. Parabéns para os professores da família Cabral

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  2. Lúcia Rocha, património cultural mossoroense. Motivo de alegria e orgulho para nós conterrâneos

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