ENTREVISTA AO PORTAL OESTE EM PAUTA

 

Entrevista ao repórter e editor do portal Oeste em Pauta, Fabiano Souza. 


O gosto pela leitura e a escrita refinada da jornalista e escritora Lúcia Rocha



O Prosa de Artista conta nessa edição, um pouco sobre a história da jornalista, escritora, produtora, autora, historiadora e documentarista, Lúcia Rocha. Graduada em Comunicação Social, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN ) com atuação na imprensa de São Paulo e Rio Grande do Norte, atuando em veículos de comunicação impressa, TV, rádio e mídia digital. Lúcia Rocha, já integrou equipes da Inter Tv Cabugi, SBT, TV Record.
Filha de professora, Lucia Rocha sempre demonstrou interesse pela leitura. Desde cedo, já era vista como uma grande leitora. Lia tudo o que mamãe trazia, jornais da região Sudeste, livros, especialmente biografias. Os clássicos da literatura, que segundo ela, só lia por exigência dos professores.
O interesse pela leitura, fez com que antes de chegar ao ensino médio, já tivesse decidido que seria jornalista.
Em sua obra mais recente, a jornalista e escritora mossoroense, apresenta a história do fundador do Grupo TCM Telecom, o empresário, médico, professor e comunicador Milton Marques de Medeiros (in memoriam).A obra intitulada Memórias de Milton Marques de Medeiros – O Menino do Poré –
O livro reúne momentos importantes da história de Milton Marques de Medeiros através das 190 páginas, mais de cem fotografias e tem sua primeira edição impressa em papel couchê. Os fatos são contados em primeira pessoa e em ordem cronológica. A obra organizada por Lúcia Rocha, que fez o trabalho de pesquisa junto a entrevistas que Dr. Milton concedeu para emissoras de rádio e TV e também junto aos textos escritos por ele e publicados durante quinze anos em coluna semanal, DéJà Vu, no Jornal Gazeta do Oeste.
O jornalismo e a literatura, portanto, estão presentes na vida de Lúcia Rocha desde sempre.
Para saber um pouco mais sobre essa mossoroense que faz das letras sua razão de viver, convidamos os leitores para uma prosa descontraído sobre a vida e a obra de Lúcia Rocha.

Por Fabiano Souza

Oeste em Pauta: Conte-nos um pouco sobre sua história de vida, sobre sua família, pai, mãe, irmãos e a infância:

Sou a décima filha de Pielson Dantas Rocha e Inalda Cabral Rocha, ele natural de Antenor Navarro, na Paraíba; ela natural de Pau dos Ferros. Meu pai era alfaiate conceituado em Pau dos Ferros quando conheceu mamãe no final de 1946, ela com vinte anos, ele já viúvo aos vinte e seis anos, com dois filhos, de seis e quatro anos, que estavam sendo criados na fazenda de seus pais, na Paraíba. Segundo a biografia do meu avô paterno, publicada no livro Navarrenses Ilustres, ele era comerciante de tecidos quando foi nomeado delegado de polícia, por sua honradez e coragem, foi nomeado adjunto de promotor de justiça, depois suplente de juiz de Direito da Comarca de Antenor Navarro. Em 1947, foi nomeado pelo governador da Paraíba como prefeito de Antenor Navarro. Faleceu quando eu era criança e não o conheci, mas minha avó paterna esteve em Mossoró nos visitando quando eu tinha dois meses, temos foto desse dia. Meu avô materno, Pedro Alves Cabral, era fruto de um relacionamento entre adolescentes, uma escrava com o filho do dono da fazenda, da família Fernandes, na Fazenda João Gomes, em Pau dos Ferros. Minha mãe tinha oito anos de idade quando migrou com seus pais e irmãos para Mossoró, no final de 1934, para dar prosseguimento aos estudos. Aqui, foi interna no colégio das irmãs, enquanto seus pais foram morar na Fazenda São Pedro, no Riacho Grande, adquirida pelo meu avô em sociedade com o filho mais velho, Chico Cabral, que já morava em Mossoró. Concluindo a Escola Normal, minha mãe voltou a Pau dos Ferros para lecionar, morava com uma irmã casada e conheceu meu pai. O romance durou vinte dias, meu avô esteve lá para dar fim ao relacionamento e trouxe minha mãe de volta para Mossoró. À noite, papai apareceu de surpresa, armado e sob ameaça, levou mamãe de volta a Pau dos Ferros. Lá, casaram-se no civil, o relacionamento durou catorze anos e doze filhos, mas quatro morreram na primeira infância. Sobrevivem: Terezinha, Jacinta, Aparecida, Rocha Neto, Canindé, Filomena e Ceição. Eu tinha dois anos de idade quando mamãe deu um basta no relacionamento, devido o uso de álcool do meu pai. Nos finais de semana ele participava de caçadas com amigos e num domingo, retornou à noite, atirando em casa, ela conseguiu levar os filhos para o quintal e pulou para a casa dos vizinhos, avós maternos de Seyssa Praxedes. Esses vizinhos nos acolheram até a chegada de nosso avô materno, que nos levou para sua casa. Minha mãe estava grávida de sete meses, da caçula. Então, somos sobreviventes do que talvez seria uma tragédia e meus pais nunca mais se cruzaram. Meu avô era proprietário de três casas, passamos a residir numa delas, ao lado da casa dele, então, fomos criados sob os olhos de tias e avós. Mamãe nos sustentou com salário de professora e, aos poucos, cresceu profissionalmente, conquistou espaços na educação, como secretária de educação na gestão do prefeito Raimundo Soares e, no início dos anos 1970, foi nomeada pelo Governador Cortez Pereira, Chefe do NURE, hoje DIREC. Além disso, fundou uma escola particular, o Educandário Nossa Senhora Aparecida, já extinto. Meu pai deixou de ser alfaiate e investiu na atividade de baterias para automóveis, tornando-se pioneiro nesse ramo em Mossoró.


O.P.: Como foi sua adolescência e o que mais marcou esse momento de sua vida para a formação como pessoa?

Adolescência no centro da cidade, mais precisamente, na Rua Mário Negócio, que tem uma pracinha, onde à noite os jovens daquele pedaço se reuniam, numa Mossoró tranquila. Nessa pracinha rolavam as primeiras paqueras e namoros. De dia, a gente se divertia na pracinha da rua de trás, anexa à Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, onde andávamos de skate e bicicleta, subíamos em árvores, tomávamos banho de piscina na casa de doutor Clóvis Miranda e Laurita. Adolescência tranquila, lendo bastante e treinando redação, trocando cartas com uma irmã de papai, que morava em João Pessoa, Tia Otácia, que nos visitou, veio conhecer os sobrinhos. O que mais marcou foi que decidi cedo ser jornalista, já antes dos dez anos de idade, porém, o país vivia aquele período de Ditadura Militar, onde jornalistas eram presos, submetidos a torturas, apareciam mortos, lembro bem que o episódio que mais marcou foi a foto do jornalista Vladimir Herzog, divulgada no mundo inteiro, morto numa cela, em São Paulo. Acredito que por causa da repercussão passei a ser desestimulada por parentes. Por um tempo, a vida passou a não ter sentido, porque o caminho natural da família seria lecionar, onde tanto minha mãe, como duas irmãs dela, Tia Adelzira e Tia Guiomar, formavam um trio referência na educação local. Mas, uma sobrinha, Tereza Cristina, filha do meu irmão mais velho, Francisco Dantas Rocha, o Chiquinho, passou a me incentivar a cursar Comunicação, a não desistir. E foi o que aconteceu. Fiz uma faculdade aqui, Ciências Sociais, na UERN e, ao final do curso, fiz vestibular na UFRN, somente Tereza sabia, fui aprovada em Comunicação Social, em 1987, quando o país já respirava liberdade de imprensa e tudo veio ao seu tempo. Tive sorte.

O.P.: Como você se definiria como estudante?
Desde cedo, uma grande leitora. Lia tudo o que mamãe trazia, jornais da região Sudeste, livros, especialmente biografias. Os clássicos da literatura só lia por exigência dos professores. Em casa, não tivemos vida confortável, mas tínhamos o básico para viver, casa alugada para morar, comida na mesa, para comer, livros e jornais para ler. Assim, mamãe assumiu os oito filhos, a mais velha com doze anos de idade, e mais a nossa babá, que acompanhava mamãe desde o casamento, ajudou a nos criar e cuidou bem da casa e de nós todos. Chamava-se Antônia Alves, casou, teve filhos, mas sempre trabalhando conosco. Toinha teve influência na nossa formação, cuidava da casa e dos nossos afazeres escolares. Como eu era uma aluna de prestar atenção às aulas e anotar tudo, não estudava para as provas, nem estudei para vestibular. Porém, nunca fui de pegar uma prova e ficar esperando o tempo passar para entregá-la ao professor. Procurava responder o quanto antes e a devolvia. Estudei no Educandário Dom Bosco, na escola da minha mãe, Educandário Nossa Senhora Aparecida, que só tinha o primeiro grau menor; no Colégio Sagrado Coração de Maria, no Centro de Educação Integrada Professor Eliseu Viana e Colégio Diocesano Santa Luzia, onde fiz o segundo grau, sempre com bolsa de estudos nas escolas particulares. Ser filha de Inalda Cabral Rocha não foi fácil em sala de aula, hoje posso dizer que sofri bullyng de quatro professoras, especialmente em dia de prova, colocavam-se ao lado da minha carteira para testar se eu colava, uma delas provocava-me dizendo coisas do tipo: “Quero ver você responder tudo, você não é filha de Inalda?”, nunca toquei no assunto com ninguém, nem com minha mãe, sempre relevei, mas acredito que elas tinham dor de cotovelo, sentiam-se superiores a minha mãe, que ocupava cargo de chefia no NURE. Também encontrei uma professora que me despertou para o meu texto, Lourdinha Góis Mendes, no Diocesano, professora de Língua Portuguesa, ela foi a primeira pessoa a perceber que eu tinha uma boa redação, que eu poderia ser alguém nessa área, sem querer ajudou-me a superar a fase de perseguição das duas professoras do Diocesano mesmo. As outras duas, foi no Eliseu Viana e no colégio das irmãs.

O.P.: O que levou você a optar pelo curso de jornalismo e como foi esse período da faculdade?

Minha infância é dividida em antes dos dez anos e após, porque a gente se mudou para a Rua Mário Negócio, quando eu tinha dez anos. Então, é fácil saber os acontecimentos, por causa das duas casas. Ainda na primeira casa, à Rua Frei Miguelinho, próximo do Memorial da Resistência, houve uma brincadeira entre primas e uma delas, Lêda, falou que ia ser jornalista. Achei linda aquela palavra, era algo diferente, fiquei encantada e botei na mente que seria aquilo, acho que tinha uma ideia do que seria, porque nosso vizinho era o primo, Canindé Alves, radialista. Eu o via batendo à máquina de datilografia, os dedos deslizavam, ele nem olhava o teclado, então, era aquilo que gostaria de fazer um dia. Na Mário Negócio, descobri a Dat Rápida, escola de datilografia de Rogério Dias e, por volta dos doze anos, tomei a iniciativa de ir lá me informar sobre a matrícula, não queria perder a oportunidade de ter o que eu considerava o primeiro requisito para ser jornalista, saber datilografar. Então, resolvi vender balas no colégio de mamãe para pagar a mensalidade. Rogério Dias até hoje é amigo e testemunha disso, pois eu pagava com moedas a mensalidade. Sempre estamos relembrando esse período. Aquele diploma da Dat Rápida serviu para eu ser selecionada para um trabalho temporário de escriturária do Banco do Brasil, foram seis meses maravilhosos, na Carteira Agrícola, uma grande experiência, com gente tarimbada na cidade, como Everaldo Rebouças, o chefe, além de Lupércio Luiz de Azevedo e Nerialba Brasil, além de outros, mas esses três marcaram. Lupércio, por exemplo, observava-me e dizia que eu ia longe. Eu não entendia e pedia para ele explicar, ele respondia: “Você não tem ideia de onde pode chegar”. Na minha monografia de jornalismo, dediquei-a à minha sobrinha, Tereza, e a Lupércio, pelo incentivo que me deram. Sobre o tempo de faculdade de comunicação, foi de 1987 a 1990. Sou da turma de Micarla de Sousa, minha mãe era amiga do seu pai, por causa da política, então, talvez isso tenha nos aproximado, até hoje já são trinta e quatro anos de amizade. Somos de uma geração de estudantes de Jornalismo na UFRN, em que tivemos um time de professores de renome na imprensa potiguar: Cassiano Arruda Câmara, Vicente Serejo, Albimar Furtado, Aldemar de Almeida, Edilson Braga, Jânio Vidal, Otêmia Porpino, Vanilda Vasconcelos, Miriam Moema, Marco Aurélio Sá, Maurício Pandolfo e os saudosos Rogério Cadengue, Ticiano Duarte e Sanderson Negreiros que nos apresentou Cascudo, pois o conteúdo de suas aulas eram somente sobre o grande Luís da Câmara Cascudo, de quem virei leitora e fiquei surpresa porque nunca nenhum professor de Mossoró o citava nem indicava a leitura de sua obra. Acho que até hoje é assim, só falam e indicam os grandes clássicos da literatura, mas os autores potiguares, não são prestigiados em sala de aula e temos excelentes autores.

O.P.: O fato de ter escolhido a profissão de jornalista numa época que pouco se valorizava essa profissão trouxe alguma dificuldade para você?
Nunca foi impedimento e na minha mente, jornalista ganhava mais do que professor, não sei se porque a vida lá em casa não era nada fácil, não havia nada em abundância, não passamos fome, mas tínhamos apenas o básico, como café, almoço e janta. Lanche, não lembro nem para levar para a escola, mas éramos felizes, mamãe trabalhava os três expedientes para pagar o básico, aluguel e alimentação, então, certamente, eu não queria ter uma vida privada, por isso, nunca me via numa sala de aula. Hoje, professor ganha bem mais do que naquele tempo ou então, as coisas estão mais fáceis, com cartão de crédito, bolsa família, financiamento para habitação e carro. Hoje, a impressão que tenho é que todos os professores têm carro do ano ou semi-novos, mas naquele tempo, nem uma bicicleta. Na nossa família, havia professoras em abundância, mas todos atravessando a cidade a pé. Mamãe, por exemplo, chegou a dar expediente no Grupo Escolar Moreira Dias, na Doze Anos, à tarde, no Padre Dehon, no Alto de São Manuel e, à noite, na Escola Lions, no bairro Aeroporto, tudo a pé, numa cidade que ainda não tinha tantas opções de transporte público, não havia mototáxi, Uber, as ruas não eram asfaltadas, ela saía para dar aulas levando poeira no caminho. Eu não queria aquela vida para mim. Na minha infância e adolescência, poucos parentes tinham carros. Hoje, conta-se numa mão os que não têm um veículo, então, a vida está mais fácil. Os professores da UERN quando eu fazia a primeira faculdade, não tinham carro, pegavam carona com os alunos comerciantes, então, não sei de onde essa minha vontade de ter carro, por exemplo. Minha mãe só teve carro quando se aposentou porque vendeu dois lotes de terreno que herdou do pai. Em nossa casa não havia telefone, nem televisão. Quando mamãe foi nomeada chefe do NURE, passou a se ausentar da casa, viajar para visitar escolas no interior, então, adquiriu uma linha de telefone. Por força do cargo, ela tinha carro e motorista à disposição. Esse carro era de uso exclusivo em serviço, jamais foi usado para nos levar para a escola, dentista, médico, nada disso, íamos a pé com nossa babá, Toinha. Mamãe não tinha tempo de comparecer às reuniões de pais e mestres, nem assinava nossos boletins escolares, quem fazia isso por ela era Dalvinha Rosado, amiga de infância e uma de suas secretárias nos tempos de NURE. Dalvinha tomava a frente e fazia isso de forma espontânea porque via a limitação de tempo de mamãe conosco. Televisão nunca fez falta, estávamos ocupados lendo e cuidando de nossas tarefas em casa ou na escola de mamãe. Quando se aposentou, mamãe adquiriu a primeira televisão, que só era ligada em sua presença, ninguém ficou viciado em TV, fomos educados pelo exemplo dela, que nem sempre estava por perto para nos censurar por qualquer ato, nunca ouvi um palavrão em casa ou palavras chulas e até hoje tenho dificuldade de conviver com quem faz uso, seja no trabalho ou em ambientes de amizade.

O.P.: Antes de iniciar profissionalmente, você já tinha realizado algum tipo de trabalho nessa área de jornalismo?
Não. Gostava de escrever e acredito que passei nos dois vestibulares pela redação, porque nunca fui dedicada às disciplinas de Matemática, Biologia, Química ou Física. Foi tudo na base de marcar sem ler as perguntas. Porém, dominava a redação e disciplinas como História, Geografia e Conhecimentos Gerais. Sou do tempo em que cantávamos o Hino Nacional toda semana no Colégio Diocesano, amava aquilo e sinto as crianças e adolescentes não terem mais isso, até hoje amo todos os hinos, da Bandeira, do Exército, de Mossoró, enfim. Ainda na adolescência, uma amiga de mamãe, vereadora Raimunda Nogueira do Couto, Dodoca, conseguiu-me um contrato como datilógrafa, na prefeitura. Não tinha carteira assinada, não havia concurso público, era contrato, não havia empresa terceirizada, como hoje. Então, fui trabalhar de datilógrafa em escola pública. O trabalho em jornalismo começou quando a professora de História do Jornalismo, Otêmia Porpino, ao final do primeiro ano da faculdade, encarregou-me de nas férias, levantar a história do O Mossoroense, porque até então, não havia nada sobre nosso jornal, já centenário, no Departamento de Comunicação da UFRN. Aquele trabalho valeria nota no semestre seguinte. Chegando em Mossoró, procurei o jornal e o diretor era Emery Costa, que colocou todo mundo à disposição para colaborar com esse trabalho. Ao final das férias e com o trabalho concluído, retornei para agradecê-lo. Então, ele disse que eu poderia escrever ou fazer reportagens para o jornal, mas avisou que não teria salário, nem ajuda de custo para me deslocar de Natal para Mossoró. Encarei como uma oportunidade e passei a escrever matérias de páginas inteiras, do jeito que eu via nos grandes jornais, com assuntos culturais, cotidiano, lazer, enfim. Ele colocou um fotógrafo, Nekinho, à disposição, para fotografar para a página. Então, toda sexta-feira eu pegava a estrada, passava o sábado no jornal, ao lado de Cosmo, conhecido por Vovô, montando a página a ser publicada no domingo. Eu já tinha o maior cuidado para evitar erros, era um trabalho lento, cada letra era uma barrinha de ferro, eu o orientava na diagramação, tipo, onde sairia as fotos, as frases para ‘janelas’ em meio ao texto, nada disso aprendi na faculdade, foi no O Mossoroense, ao lado de Vovô. Acho que ele era semi-analfabeto, mas responsável pela montagem dos textos nesse esquema de cada letra uma barrinha de ferro. A minha preocupação com erros aumentou quando soube que ele havia trocado um T por um P numa manchete de esportes: Campeonato de Pênis no Thermas. Veja o risco de ‘sujar’ meu nome. Feito isso no sábado, então, no domingo, eu saía com Nekinho em busca de mais uma pauta que rendesse uma página. Levava o texto, escrito à mão para Natal, como tinha máquina de datilografia, então, eu passava a semana treinando o texto. Quando errava, a folha ia para o lixo, não é como o computador hoje que apenas deletamos e só imprime após os ajustes. Na sexta, começava tudo de novo, com o texto datilografado, voltava para Mossoró, entregava-o a Vovô e observava aquele trabalho artesanal. Gostaria de saber por onde anda Nekinho, já faz trinta anos que não nos vemos, foi um ótimo parceiro. Eu até penso em juntar esse material para publicar em livro.

O.P.: Quando você iniciou profissionalmente sua carreira, qual o veículo e qual a importância desse trabalho em sua formação profissional?

Passei a atuar no O Mossoroense quando fazia o segundo ano de faculdade de Jornalismo, de forma voluntária, sem salário, sem ajuda de custos, eu já levava a profissão a sério e me comportava como uma profissional. A importância maior foi que a partir daquela experiência, portas se abriram, no ano seguinte fui para o semanário Dois Pontos, de Natal, era de um professor da faculdade, Marco Aurélio Sá, que viu reportagem minha no O Mossoroense e me convidou, mas avisou que eu ganharia para trabalhar com ele. Meu texto passou a ser observado por Osair Vasconcelos, à época, diretor de jornalismo da TV Cabugi, que me convidou para trabalhar lá, de assistente de pauta. Bem, de lá para cá, só fui crescendo, portas se abrindo, convites chegando e, quando colei grau, fui embora para São Paulo, atuei no SBT, Record TV, fui diretora de palco do Show Maravilha, assessorei a banda Raça Negra e passei a assessorar executivos, palestrantes e um deputado federal, de onde parti para escrever livros sob encomenda, já tenho em torno de vinte livros e garanti independência financeira.

O.P.: Você foi uma das primeiras jornalistas do RN, a chegar a uma emissora de TV do eixo Rio-São Paulo, como foi essa experiência e em que período ocorreu?

Em janeiro de 1991, cheguei em São Paulo, logo após a colação de grau em Jornalismo, mas já cheguei com a recomendação de um professor para o diretor de um telejornal. No dia seguinte à minha chegada, já estava praticamente trabalhando, levei na minha bagagem as qualidades de ser portadora de um bom texto e ser alguém disciplinada, do contrário, não teria chances. Trinta anos depois, tenho observado que o que conta mais atualmente nas empresas, independente de qualquer ramo de negócio, é quanto ao comportamento do candidato a uma vaga de emprego. A questão técnica tem sido relevante porque as empresas estão formando seus profissionais conforme suas necessidades e demandas. Por muitos anos, contratou-se pelo requisito técnico, a pessoa tinha que dominar uma função, porém, perdia o emprego por falta de comportamento, por não se adaptar a conviver em equipe, não compartilhar ideias com os colegas, enfim. Algo que me ajudou foi ler bastante, foi como aprendi a desenvolver um bom texto, ninguém chega a uma boa redação sem leitura em demasia. Temos que ler bastante e de tudo um pouco. Sempre observei o vocabulário e as regras gramaticais através da leitura, nunca perdi tempo lendo livros sobre gramática. Quando desembarquei no SBT, encontrei grandes profissionais que hoje estão na Rede Globo, como por exemplo, Zileide Silva e Heraldo Pereira. Arnaldo Duran, que esteve na Globo e hoje está na Record TV, também o Hermano Hening, inclusive, fiz amizade com seu filho, Herbert Hening, que fazia parte da equipe de redação do TJ Brasil. Lembro de Jacqueline Cordeiro, de Natal, que atuou na TV Tropical, estava no mesmo período na produção de jornalismo da TV Bandeirantes, ela atuava ao lado de Ricardo Kotscho, que anos depois assumiu a chefia da secretaria de imprensa de Lula na presidência. Fiquei pouco tempo no jornalismo do SBT porque aceitei convite da apresentadora Mara Maravilha e sua mãe, Marileide, para gerenciar a carreira de Mara, quando tive a oportunidade de ser diretora de palco do Show Maravilha. Algumas vezes houve a oportunidade de eu assumir a direção geral do programa, porém, eu já liderava a equipe que dava suporte à carreira de Mara, em nível de escritório e cuidava também dos seus interesses com a gravadora, Emi-Odeon, cuja sede era no Rio de Janeiro, exigindo sempre nosso deslocamento para atender demandas e por causa disso, passávamos muito tempo lá, morávamos em São Paulo, mas o Copacabana Palace Hotel passou a ser nossa segunda casa. Raramente passávamos uma semana sem ir à Cidade Maravilhosa, onde estava o maior público de Mara, então, a agenda de shows era sempre dividida entre turnês pelo Rio de Janeiro e outros estados. No Rio, conhecemos Nelson Mandela, que estava hospedado no mesmo hotel, em 1991, nem sabíamos que ele estava no Brasil.

O.P.: Como foi conviver com grandes artistas do cenário nacional durante sua carreira na TV? Até quando você ficou na TV e porque decidiu buscar novos caminhos?
Acredito que o curso de Ciências Sociais colaborou demais na convivência com celebridades, pois para lidar com eles precisamos entender de Psicologia e paguei alguns semestres de Psicologia aqui na UERN que me servem até hoje, passei a ler sobre o assunto e facilitou bastante na convivência com Mara e outros artistas. Para trabalhar com Mara, precisei mudar para sua residência, onde morava com a mãe e outros colaboradores, secretária pessoal, governanta, motorista, faxineiras e segurança. Então, nossa convivência era de vinte e quatro horas do dia, um período rico, foi uma grande escola, porque com ela e Marileide, sua mãe, aprendi o metier e entrei para o show business, um mercado bastante interessante e atraente. Sempre digo que artistas são pessoas comuns que fazem coisas extraordinárias. Geralmente, vieram do nada, tiveram uma infância de privações, do contrário, não se dariam bem em uma atividade profissional para lidar com o grande público. Não conheço ninguém que nasceu em berço de ouro e se tornou estrela na música ou na televisão. Mas não basta entender de artista, tem que conviver com seu público, que são outros artistas, apresentadores, produtores de programa de televisão, produtores musicais, os músicos, com os executivos das gravadoras, porque um artista que apresenta programa de televisão e canta, tem que lidar com uma rede de profissionais diversificada. Tem que aprender a entender e lidar com o fã, esta figura excepcional, que aprova ou não o trabalho da celebridade. No caso de Mara, que tinha um trabalho voltado para o público infanto-juvenil, especialmente no Nordeste, passávamos por situações interessantes, pois tínhamos que chegar de madrugada em aeroportos de algumas capitais como Recife, Teresina, João Pessoa, Aracaju, São Luís e Natal, porque sempre havia um grande público à espera de Mara, o que dava trabalho para a nossa segurança, a polícia local e seguranças dos aeroportos, então, sempre havia um esquema de sairmos de aeroportos e locais dos eventos em camburões da polícia e testemunhávamos adolescentes jogando-se nessas viaturas, somente pelo prazer de vê-la por alguns minutos, arriscando a própria vida, isso era assustador. Quando ela apresentou programa de televisão na Argentina, também houve essas situações lá. É difícil entender porque agem com tanta emoção diante de uma celebridade. Quando deixei de trabalhar com Mara, afastei-me da televisão para focar em assessoria de imprensa, mesmo assim, convites apareciam, um deles foi de Ana Maria Braga, à época, na Record TV, porém, eu assessorava ainda Raça Negra e João Ribeiro, ganhando muito mais do que ela me ofereceu, pois seu programa era independente e não gerava tanta receita para cobrir minha receita. Um ano depois, recebi convite de Edson Gonçalves, um diretor da Record TV para atuar na produção de um programa da casa, com um salário que cobria minha receita no Raça Negra, então, voltei para a televisão e na segunda semana, assumi a direção do programa ABC em Ação, voltado para responsabilidade social. Fiquei um tempo nesse programa, ele foi extinto e voltou muito tempo depois com o nome Ressoar, ainda está no ar, mas na Record News. Saindo da Record peguei alguns trabalhos na área de assessoria, como doutor Lair Ribeiro e o bispo Marcelo Crivella, que já cantava nas igrejas mas a Sony Music assinou contrato e o lançou num grande investimento de marketing. Foi o próprio presidente da Sony, Luís Calainho, quem me contratou, a gente já se conhecia e ele era sabedor do meu texto. Engraçado, que meu texto levou-me para lugares jamais imaginados, acho que meu texto foi o meu melhor cartão de visitas, lembro que quando fui apresentada a Calainho, por Ricardo Silveira, da Emi, ele falou algo assim: “Além de gente boa, tem um excelente texto”. Isso na saída de um show. Voltei a ver Calainho nas reuniões para decidir o destino de um cantor gospel que havia acabado de chegar de uma longa temporada na África e aquele produto, um CD, levaria-o à mídia, ao ponto de colaborar para seu ingresso na política, foi senador, ministro da pesca e prefeito do Rio de Janeiro, mas desde o início eu sabia muito bem a intenção daquele lançamento, embora, ninguém tocasse no assunto. Conviver com as celebridades do mundo artístico e executivos, os homens que estão por trás de um grande talento, é uma oportunidade única para qualquer profissional da área de comunicação.

O.P. Como foi atuar na assessoria de imprensa e trabalhar com artistas, políticos, empresários? Esse tipo de serviço ainda desperta seu interesse?
Com Mara, eu era assessora pessoal dela. Já havia um assessor de imprensa, Vildomar Batista, que à época, era estudante de Jornalismo. Ele é nordestino como a gente, natural de Conceição do Piancó, aqui na Paraíba, anos depois passou a dirigir Mara na Record TV e ficou famoso como diretor de televisão, com passagens em diversas emissoras, hoje é celebridade nessa função. Então, Vildomar ficava no escritório, pequeno, atendendo as demandas da imprensa, pedidos de entrevistas, sessões de autógrafos, convites para apresentar-se cantando em programas de televisão ou entrevistas em emissoras de rádio. Minha função era em primeiro lugar, acompanhar fisicamente Mara para todos os compromissos, inclusive, pessoais e de lazer, como idas a shopping, cinema, teatros, boates, saídas para namorar, ir a restaurantes, visitas a amigos, colegas, familiares, sempre acompanhadas de motorista e seguranças, para nossa segurança, claro. Fora isso, gerenciar essa agenda de compromissos e participar de todas as reuniões com mãe e filha na direção do SBT e na direção da gravadora, Emi-Odeon, no Rio de Janeiro. Nada era decidido sem minha presença, sem minha participação. No início, o escritório da Maravilha Produções era na região da Avenida Paulista, onde Vildomar dava expediente, era longe demais da casa de Mara, então, sugeri montarmos escritório próximo de casa, para facilitar o deslocamento e evitar perda de tempo no trânsito de São Paulo, algo que elas aceitaram e, Graças a Deus, todas as minhas sugestões eram aceitas e colocadas em prática de imediato, para melhor aproveitamento e rendimento do trabalho delas, também. Então, passei a selecionar profissionais para atuar no novo escritório, instalado num imóvel com três pisos, onde foi montado uma super estrutura à altura da artista que Mara era naquele momento, alguém de nível nacional como apresentadora e música, alguém que detinha o segundo lugar absoluto em audiência na televisão, concorrendo com a líder, Xuxa, pau a pau no IBOPE. Feito isso, passei a fazer algumas exigências à gravadora e ao SBT. E, logo, tudo era conseguido. Mãe e filha eram tão ocupadas, que não se davam conta que o tempo estava passando e tinham direito a algumas regalias nas empresas contratantes. No Rio de Janeiro, por exemplo, elas tinham direito a hotel duas estrelas, sempre que iam resolver demandas da gravadora. Mara é louca pelo mar, nos contratos para show exigia-se hotel à beira mar dos contratantes, porém, no Rio de Janeiro, a gravadora a colocava num hotel em Copacabana, mas sem vista para o mar, então, passei a exigir hospedagem no melhor de todos, o Copacabana Palace Hotel e fomos imediatamente atendidas. No SBT, logo veio a renovação de contrato, algo que Seu Silvio antecipou, porque tinha mais um ano para vencer, então, sugeri pedirmos luvas, algo jamais feito em televisão, ele aceitou e pagou luvas para renovar o seu contrato. Poucos meses depois, veio a renovação com a gravadora, mais uma vez pedimos luvas e, acredite, o presidente mundial da Emi veio pessoalmente para essa negociação e aceitou, enfim, algo tão comum que eu lia nas editorias de futebol, foram levadas para a televisão e a música, acatadas pioneiramente, beneficiando Mara. Mas todo esse meu trabalho de atuar em tempo integral teve um alto preço porque ficava privada de ver amigos e familiares em São Paulo, perdi meu pai e só fiquei sabendo uma semana depois, coisas de um tempo em que não havia telefonia celular e, portanto, não culpei a mesma, nem sua mãe, que também foi uma mãe para mim, tratou-me muito bem até sua passagem, em 2013. Depois desse triste episódio, decidi que não mais trabalharia para ninguém em tempo integral. Dei um tempo em São Paulo, retornei a Mossoró, onde fiquei oito meses acompanhando tratamento médico de mamãe. Na volta, trabalhei com Arnaldo Saccomani e passei a assessorar a banda Raça Negra, onde apenas exercia a função de assessora de imprensa, acompanhando-os em todos os shows, num momento em que eram artistas ‘estourados’, com agenda de vinte shows por mês, pedidos para apresentação nos programas de televisão de grande audiência, como Faustão, Gugu, Hebe, Xuxa, Mara, onde os conheci, em 1992. Assessorar uma banda que vendia um milhão e meio de CDs por ano e com agenda lotada de shows, é lidar com os melhores jornalistas que cobriam a indústria do entretenimento para a imprensa. Passei a lidar com as editorias dos grandes jornais e revistas semanais de ponta, como Folha de São Paulo, Estadão, O Globo, Jornal do Brasil, VEJA e CARAS, por exemplo. Publicações TOP e jornalistas TOP, no tempo de Mara, quem fazia isso era Vildomar Batista, ele que estava na linha de frente com esses profissionais. E no meu tempo de faculdade, não havia a disciplina Assessoria de Imprensa, pelo menos na UFRN. A telefonia celular foi chegando nesse tempo, facilitando demais a comunicação entre profissionais de assessoria e produtores de televisão, assessoria e contratantes de shows, por exemplo, estou falando de um tempo pré-redes sociais, não imaginávamos que viria algo que facilitaria ainda mais o relacionamento artista-mídia, onde ficou fácil um jornalista que cobre o mundo das celebridades encontrar um artista sem passar necessariamente por sua assessoria. Num segundo momento, com a chegada de redes sociais, o próprio artista passou a informar em seus perfis nas redes sociais o sua dia a dia, por onde andava, sua opinião por assuntos polêmicos, então, ficou arriscado assessorar um artista que gosta de expor sua intimidade, suas opiniões sobre assuntos que ele não domina, entendeu? Confesso que não sei exatamente as funções de um assessor de imprensa, hoje, pois a gente está assistindo diariamente um presidente da república se expor demasiadamente, sem orientação nenhuma de um profissional de comunicação, porque tem o político e a celebridade do mundo da fama que é teimoso em demasia, pensa que é a última Coca Cola do deserto e ninguém dá um basta nisso, a coisa fica sem freio, o político ou a celebridade entra num oito, não sabe sair de situações que ele se colocou e vai cada vez mais engolindo corda de fãs ou seguidores, expondo-se até sumir de vez da mídia. A gente conhece a história de tantos quanto tentaram criar polêmicas para aparecer e queimaram tanto o filme até sumirem de vez do mapa. Vi gente talentosa em sua arte, subir e logo cair em desgraça ao ponto de não fazerem falta no cenário nacional. Voltaram a ser pessoas comuns porque a arrogância os destruiu por si. Em relação a políticos, atuei na imprensa para ‘apagar fogo’ em escândalos, tipo, a editoria política de determinado veículo recebeu informações de um ex-colaborador do político ‘entregando’ as falhas dele, especialmente, no que toca o que chamam de ‘rachadinha’, esse é apenas um exemplo do que chega à imprensa. Sinceramente, sempre vai existir a ‘rachadinha’ enquanto houver jornalistas e colaboradores não preparados o suficiente para rejeitarem esse tipo de oferta. Eu jamais entregaria parte do salário para político nenhum, nem que fosse a última oferta de trabalho, estaria sendo conivente com algo que condeno. Dentro da atuação como assessora, o que ainda curto é na orientação, seja artista, apresentador de televisão ou político, no que toca a orientação de como se comportar, de como gerenciar sua equipe, de como falar em público, de como se relacionar com a imprensa, colegas e nas redes sociais com seu público. É algo que ainda me sinto útil. Há quatro anos orientei Dudu Camargo, no SBT, um garoto que estreou na apresentação de telejornal, porém, bom de Ibope, apesar da pouca idade.

O.P. Quando você decidiu escrever e produzir livros e o que a levou para esse caminho?

Quando ainda atuava na assessoria de imprensa do Raça Negra, depois de apresentações na África e Estados Unidos, o nosso patrão e vocalista da banda, Luiz Carlos, gente do meu bem querer, um ser iluminado, a quem tenho respeito e consideração, resolveu gravar um disco solo com um estilo musical que ele conheceu nessa turnê na América, conhecido por Charme, também conhecido por black music. Ele acreditou que poderia dar certo no Brasil, mas esse disco foi um fracasso, não foi bem recebido nem pelos fãs, mas era um projeto pessoal dele, que resolveu dar um tempo na agenda de shows da banda e, como parte dos profissionais que atuam com artistas ganha em cima de shows, porque fatura-se por cachê de show. Se você faz vinte shows por mês, você ganha vinte cachês. Nesse tempo, estou falando de anos 1990, era de R$ 300 – trezentos reais – por show. Você multiplica 300 por 20 = R$ 6 mil. De uma hora para outra, você fica sem nenhum show, zero de trabalho, é zero de receita. No meu caso, eu tinha um fixo como assessora + esse valor de cachê por mês. Fiquei sem o cachê de show, mas mantinha o salário de assessora, que chegava perto desse valor. Então, quem vivia somente do cachê de show, inclusive, os próprios integrantes da banda, decidiu não ficar mais e partir para carreira solo, como fez Luiz. Edson Café já estava afastado da banda por causa de um AVC. De cara, saiu logo Gabhu, também vocalista e em seguida, Paulinho, que tocava contra-baixo; então, foi uma grande baixa logo no primeiro ano, a banda foi perdendo os melhores músicos, não integrantes da banda, mas que estavam nela desde o primeiro disco, como o maestro e tecladista, Júlio, um grande profissional. Encontrar músicos à altura para tocarem a banda não está sendo fácil até hoje. Quem saiu não retornou, buscou direitos na justiça, enfim, infelizmente, os melhores profissionais que atuavam como produtores da banda, camareiros, roadies, operadores de som, todos foram ao mercado buscar trabalho e, quem não queria alguém do Raça Negra, que formava a terceira melhor produção de shows do país? Só perdíamos para Roberto Carlos e Xuxa. Continuei assessorando a banda no escritório, mesmo que sem shows, ganhando meu salário, sem os cachês de shows quando decidi que estava na hora de tentar assessorar executivos, gente do mercado corporativo, era arriscado, mas estava decidida a enfrentar. Já havia recebido convite do presidente de uma indústria de cosméticos, nesse meio de decisão, encontrei-o por acaso num restaurante e mais uma vez, convidou-me. Não pensei duas vezes, conciliei as duas assessorias, isso foi em janeiro de 1996 e até hoje é meu cliente. Passei a acompanhá-lo nos finais de semana país afora, pois ele palestrava sobre vendas e gestão de carreira, inclusive, ele é amigo do doutor Lair Ribeiro, que é pioneiro em PNL – Programação Neuro Linguística – no Brasil. Esse meu cliente, João Ribeiro, apresentou-me ao doutor Lair e, logo fiquei amiga dele, da esposa e filhos. Dessa amizade, ele pediu-me para revisar um livro que estava para lançar. Eu estava vindo de férias para Mossoró, onde li e reli diversas vezes esse livro, quando o devolvi, ele gostou da revisão e aquilo me inspirou para escrever um livro e já que eu anotava todo o conteúdo das palestras de João Ribeiro, então, preparei o primeiro livro sem o seu conhecimento, quando mostrei, o material foi aprovado e a empresa lançou. Dai em diante, ficou mais fácil, passei a assistir palestras de grandes escritores nas bienais do livro em São Paulo, fiz um curso sobre a arte de escrever livros e todo ano preparava um livro para esse cliente, na condição de ghost writer, que significa escritor fantasma, ou seja, o escritor não aparece porque ele é um organizador das ideias do cliente, alguém que lhe contrata para preparar em redação o que foi dito por ele. Uns três anos depois, um diretor da empresa do João Ribeiro, contratou-me para montar a biografia dele, na época, ele já estava bem de vida, morando em Alphaville, sendo que havia entrado na empresa como um simples funcionário para cuidar do forno que fazia vidros para embalar perfumes. Era uma história interessantíssima e, aliei o gosto que já tinha por biografias, então, esse passou a ser o primeiro livro biográfico, embora na condição de escritor fantasma. Mas em 1995, comecei a entrevistar Mara e a mãe dela, individualmente, para um dia, quem sabe, lançar, mas desde o início era um livro sem data nem compromisso de ser lançado. Esse livro vem sendo escrito ao longo desses vinte e seis anos, já entrevistei todas as pessoas envolvidas em sua carreira. Já fui consultada para vender os direitos autorais para uma grande produtora de cinema que pensa em gravar o filme, mas veio a pandemia, o mundo parou e no início do ano vou retomar o projeto para finalizar. Mara está vivendo uma nova realidade, ano passado conseguiu o tão desejo sonho de ser mãe, adotou um garoto de três anos e tem sido uma mãe dedicada. Ainda quando eu morava em São Paulo, conheci Maria Eulina, uma ex-moradora de rua que tem uma história incrível, coloquei sua história no papel e lancei sua biografia em 2005, então, Catadora de Sonhos – A História Secreta de Maria Eulina, foi meu primeiro livro autoral, ou seja, projeto meu, com meu nome na capa. Banquei uma primeira edição com trezentos exemplares, que saiu pela Coleção Mossoroense, com o incentivo do professor Vingt-un Rosado, que disse que foi o melhor livro de ficção que havia lido, pois não acreditava que alguém viveu aquelas situações na condição de moradora de rua. Bem, Maria Eulina esteve palestrando em Mossoró naquele mesmo ano, no Teatro Municipal, tendo na assistência, o próprio Vingt-un, dona América, as filhas Telena e Maria Lúcia, que vieram de Natal com essa finalidade. Um ano depois, o livro ganhou reportagem no jornal francês, Le Monde. Em 2017, aconteceu algo incrível, fui a São Paulo participar da inauguração da sede do Castelinho, onde Maria Eulina montou uma ONG, para dar assistência a pessoas que vivem em situação de rua. Por causa desse livro, a ONG havia conseguido do governo do estado de São Paulo, uma verba de quase três milhões de reais para a restauração. Um exemplar do livro chegou ao governador José Serra, sua esposa, Mônica, leu, gostou e foi lá conhecer pessoalmente Maria Eulina e a ONG. Então, um livro simples, sem fotos, impresso na gráfica da Fundação Vingt-un Rosado estava fazendo história na capital paulista, em plena Avenida São João. Foi uma solenidade bacana, transmitida ao vivo por algumas emissoras de televisão, como Record TV e a Rede Globo, nos telejornais locais de meio dia, no momento da solenidade de inauguração, com a presença do então prefeito, João Dória, e do então governador, Geraldo Alckimin. E por que eu estava lá? Porque havia sido escolhida pelos cerimoniais da prefeitura e do governo do estado para, juntamente com Maria Eulina, recepcionar os convidados para o evento. Fui incumbida de explicar algumas particularidades do restauro, porque era uma construção de 1917, onde se preservou o máximo possível a construção original, precisei ir alguns dias antes para orientar-me com o arquiteto responsável pela obra. Isso mostra o quanto a gente pode mudar o mundo para melhor com um simples livro, a biografia de uma pessoa simples, nordestina, do povo, mas que tem feito a diferença na maior cidade do país. Se eu não tivesse tido a iniciativa, tomado a frente do projeto desse livro que até agora nunca me deu retorno financeiro, mas que ajudou a consolidar meu nome como biógrafa, pelo menos para quem me conhece, para prováveis contratantes de biografias sob encomenda.

O.P.: Qual foi o seu primeiro livro publicado e sobre o que trata esse livro?
O primeiro livro foi publicado no ano 2000, que foi a Nemawashi, uma História de Sucesso, sobre a empresa de João Ribeiro, esse cliente que passei a assessorar quatro anos antes. Na capa tem como autores, João Ribeiro, eu e sua esposa, porque ela deu uma contribuiu com o conteúdo. Interessante, quando tivemos a primeira conversa sobre assessoria, ele não sabia exatamente a função de um assessor e para que servia, pois era algo novo para ele, uma pessoa semi-analfabeta, que aprendeu a ler aos dezoito anos, no Mobral, porém, havia se tornado um grande empreendedor na área de cosméticos, fundou uma empresa e ofertava trabalho a famílias por todo o país, através da chamada venda direta. Com o advento da internet, passou a ser denominado de marketing multinível. Nessa conversa inicial com João Ribeiro, expliquei como se dava o trabalho de uma assessoria, teria que prepará-lo para entrevistas, pois ele acabara de assumir a presidência da Associação Nacional de Vendas Diretas e isso permitiria participar de programas de televisão, dar entrevistas à mídia impressa e emissoras de rádio. Num primeiro momento, passei a orientá-lo a falar corretamente, pois havia uma barreira gramatical a ser vencida e, naquela primeira conversa, ele desabafou que gostaria muito de, como todo brasileiro, participar do Programa do Jô. Falei que não prometia, mas que ia prepará-lo para isso e, depois veio a ideia de lançarmos os livros. Seis anos após essa conversa, no terceiro livro, ele foi convidado pela produção a participar do Programa do Jô. Foi em 2001 e lá estávamos na Rede Globo, foi uma experiência interessante porque eu nunca havia testemunhado um ‘evento’ que é participar da gravação de um programa do porte do Programa do Jô, digo um ‘evento’ porque é algo diferente, o convidado fica à disposição da emissora o dia inteiro, logo cedo, já chega o carro da emissora à casa do convidado e o motorista, vai passando via rádio cada momento, até a chegada do convidado no portão da emissora. Preciso passar isso para o computador para futuramente quando quiser escrever sobre essas memórias profissionais. Por sinal, esse programa está no Youtube, é fácil encontrar, basta digitar: João Ribeiro no Programa do Jô. Em sua autobiografia, João Ribeiro dedica um capítulo para esse trabalho de assessoria, com detalhes sobre como desenvolvemos e o quanto é importante na vida de um executivo. Assessorando João Ribeiro conheci outras pessoas interessantes, além de doutor Lair Ribeiro, como Antônio Ermírio de Moraes e Pelé, por exemplo, dentre outros grandes empresários, como os irmãos Safra.

O.P: Você tem se notabilizado por escrever algumas biografias, inclusive a de sua mãe Inalda Cabral Rocha. Além dessa biografia, qual das outras escritas por você, despertou mais sua atenção e por quê?
Cada biografia tem algo que marca a gente. É impossível você conviver de quatro a seis meses com alguém vitorioso, que passou obstáculos e venceu por não desistir e não tirar grandes lições. Um biógrafo passa a conviver não somente com o biografado, mas com sua família, amigos, colegas de trabalho, colaboradores, gente de seu círculo de relacionamentos. A gente ‘embarca’ literalmente na história. A biografia de mamãe deu a oportunidade de testemunhar algo interessante, que é a relação do biografado com o livro físico, a quem se apega e trata de ler e reler diariamente, acho que em busca de relembrar momentos que viveu, para não esquecer, é o encontro com seu passado, com sua infância, adolescência, mocidade e de seus pais, irmãos, cônjuge, filhos, netos, bisnetos, enfim. Isso porque, mamãe apegou-se ao seu livro, à sua história e consumia diariamente aqueles textos, aquelas histórias, as fotos, então, passei a ter o cuidado de separar o joio do trigo e deixar somente o que faria bem para o biografado dali em diante, para o resto de suas vidas, além das fotos para entrarem no álbum fotográfico do livro. Um idoso é alguém que muitas vezes é tratado como uma pessoa inútil, uma pessoa que não produz, que incomoda, que dá trabalho por exigir cuidados sob aspectos de higiene pessoal, físico, enfim. Nem sempre ele tem à sua disposição, os álbuns fotográficos da família, dos seus descendentes, então, reunidos num livro, passa a fazer parte da diária da sua vida, ele abre o livro e vai direto no capítulo que está a fim de ler, vai no álbum fotográfico do livro para ver as fotos que ele quer ver naquele momento. Isso passa a fazer parte da sua rotina, do seu dia a dia. Toma seu tempo, ele se distrai com algo salutar, sadio, que mexe com sua mente, com seus sentimentos. Então, essa biografia de mamãe foi um marco nessa minha atividade de escrever biografias porque diariamente eu testemunhava o amor que ela tinha à sua própria história. E já tenho percebido isso com Zilene, em relação a biografia de doutor Milton Marques, ela era conhecedora de sua história, de seus feitos com médico e empreendedor, pois o conhecia desde sua adolescência e com ele viveu uma bela história de amor por mais de cinquenta anos, entre namoro e casamento. Porém, em dois dias que havia recebido o livro, deu entrevista à TCM dizendo que já tinha lido diversas vezes e ia ler muitas outras vezes. O melhor do estilo biografia é que conta os detalhes da vida de alguém, suas origens, seu passado, seus feitos, seus fracassos, como saiu de cada situação que passou no rumo do futuro, como foi o processo para chegar lá, em termos de pessoa vitoriosa, vencedora. Existe diferença entre o sucesso e o vencedor. Sucesso é passageiro, é o ter. Chico Anysio dizia que o homem vale pelo sucesso, não pelo talento. O vencedor é aquele que vence sem utilizar atalhos, é o ambicioso, não o ganancioso. O sucesso a qualquer custo não vale a pena. Ser primeiro, para ter, consequentemente. Estou no processo de finalização da biografia de Zé Mendes, fazendo os últimos ajustes com sua filha, Alcindélia. Zé Mendes é um vitorioso com perfil diferente de Milton Marques, que venceu pela força da educação, dos estudos, da academia. Enquanto Zé Mendes, estudou o suficiente para aprender a ler e as quatro operações, porém, fez de um limão uma limonada. É um vencedor, gera postos de trabalho para um sem número de colaboradores em sua rede de postos de gasolina e na atividade de agropecuarista. Um homem semi-analfabeto que ousou apresentar programa de rádio voltado para a comunidade, voltado para o povo, intermediando suas demandas com o setor público, para chegar valer às autoridades da cidade, suas reivindicações. É um homem que prega a justiça e não concebe a ideia de políticos que se locupletam do dinheiro público, por isso, abria a boca representando o povo, que não recebe tratamento humano em postos de saúde, que é injustiçado pela lei que só alcança o pobre. Há muito eu desejava essa biografia, mas agora, não vejo a hora de entregar ao público fiel de Zé Mendes, o homem que venceu pela teimosia, pela força de vontade, que abriu caminho à custa de seu próprio suor, e hoje tem os filhos no comando da empresa, sob sua orientação ainda.

O.P.: Que tipo de estilo literário você tem dado preferência, ou você está aberta a qualquer linha?
Desde que li A Saga dos Kennedy, de Rose Kennedy, quando eu tinha por volta de treze, catorze anos de idade, apaixonei-me pelo estilo biografias e já devo ter lido algo em torno de duas mil biografias, meu estilo preferido. Detesto ficção e não perco tempo com o estilo, li apenas o que foi solicitado no tempo de escola, como por exemplo, Poliana e Robinson Cruzoe, clássicos da literatura mundial, que não deixam de ser biográficos, embora ficção. Até agora só escrevi os livros corporativos do João Ribeiro, na área de vendas e motivação. No momento, estamos desenvolvendo um livro dirigido para jovens que queiram empreender. Estou aberta a qualquer linha, desde que tenha um bom conteúdo, que alcance pessoas na linha de desenvolvimento pessoal e gestão de carreira.

O.P.: Que tipo de sentimento você espera despertar no leitor que tem acesso aos seu trabalho?
Boa pergunta. Em primeiro lugar, prezo pelas virtudes das pessoas, o que de melhor eles têm para passar para sua descendência. Tento colher ao máximo, suas ascendências, para que seus descendentes entendam o processo, entendam suas atitudes positivas e negativas, entendam alguns gestos e decisões que tomou ao longo da vida, mas percebo que os jovens contratantes não querem saber de histórias tão antigas. Já tentei convencer uma família da importância de incluir a história do avô de um biografado, que não consta até hoje em nenhum livro, mas que ainda tem um nome, deixou um marco na história da cidade. Não consegui convencer e futuramente, usarei esse conteúdo num projeto pessoal. Quero que ao final da leitura de um livro produzido por mim, um jovem diga a si: “Se essa pessoa chegou onde chegou, por que eu não posso chegar?”.

O.P.: Quais os seus próximos projetos?
Gostaria muito de encontrar parceiros para lançar biografias de figuras de destaque no Rio Grande do Norte que mereçam o registro de suas histórias, seus feitos. Infelizmente, não há registro em biografias de figuras como Celina Guimarães, Rodolfo Fernandes ou Dix-huit Rosado, que dizem ter sido o melhor gestor da cidade, um estadista, mas cadê a biografia dele? Entendeu? Esses dias, à convite de uma professora, participei de quatro aulas remotas com seus alunos. Perguntei em cada aula quem foi Celina Guimarães, por exemplo, na primeira aula ninguém sabia. Na segunda, uma aluna disse que estudava na Escola Municipal Celina Guimarães, mas não sabia também. Precisamos encontrar um meio para essas histórias chegarem até esses estudantes. Quando cheguei na UFRN, fiquei surpresa com a história de Luís da Câmara Cascudo, a surpresa é que cheguei na UFRN sem saber nada a seu respeito. Nunca ouvi falar em Cascudo em sala de aula, em Mossoró, nem na UERN. Como pode? Entrevistei o jovem prefeito de Mossoró, Alysson Bezerra, que também me reclamou que não sabia nada sobre Rodolfo Fernandes porque jamais lera. Está mais do que na hora dele aproveitar que está sob o comando de uma cidade que se diz cultural e colocar em prática projetos que digam os feitos de nossos heróis, que diga quem foi Ana Floriano, quem foi Elizeu Ventania. Fiz uma pesquisa no grupo Relembrando Mossoró, no Facebook, perguntando quais os personagens de Mossoró que os membros gostariam de ler a biografia, veja o resultado dos cinco primeiros mais votados: Dix-huit, Padre Guido, Gonzaga Chimbinho, Elizeu Ventania e Seu Mané, da Rádio Rural. Observe, temos nesta lista pessoas públicas cuja vida despertam interesse, tantos anos após suas passagens. Ainda sobre os próximos projetos, em 2016, lancei Tibau de Todos os Tempos, Volume I, pretendo ainda esse ano lançar o Volume II, sem incentivo nenhum dos gestores de Tibau, que não adquiriram um exemplar, nem para as escolas, nem para a biblioteca pública, nem para eles próprios. Após o lançamento da biografia de Zé Mendes, quero me dedicar a finalizar a biografia do meu avô, Pedro Alves Cabral, que comecei a escrever ainda na adolescência.

O.P.: Que pergunta você gostaria que eu tivesse feito e por quê? Aproveite para fazer suas considerações finais.
Não faltou nenhuma pergunta, todas estão bem elaboradas e espero serem úteis ao longo das próximas décadas. Que as respostas sirvam de base para estudantes de comunicação motivarem-se a buscar outros rumos, outros centros, que essa entrevista fortaleça neles a crença de que o bom profissional se faz sozinho, através da leitura de bons livros, que quem quer faz, quem não quer arruma uma desculpa. Estou com trinta e três anos nessa atividade de escrever e trinta anos de graduação, vivendo meus melhores momentos. Tive um livro contemplado com a Lei Aldir Blanc, de incentivo à cultura, o Memórias de Milton Marques de Medeiros – O Menino do Poré, lançado dia 9 de julho, era um projeto idealizado há três anos. Graças a Deus deu certo, foi bem recebido pela família, amigos e tantos quanto o conheceram, pela comunidade universitária e pelas academias de letras da cidade. Gostaria que as empresas instaladas na cidade registrassem em livros a história do seu fundador. Gostaria que as família contratassem biógrafos e historiadores para contar a história de seus patriarcas, das matriarcas para deixar para seus descendentes. Tem muita gente boa que faz isso aqui em Mossoró, não precisa trazer ninguém de fora. Se a empresa ou a família tem condições, por que não registrar, por que não prestigiar seu passado, sua história? Precisamos formar novos leitores e novos autores, somos poucos, já estou preocupada em quem vai registrar o passado recente e o presente. Quero aproveitar a oportunidade para registrar que minha ida para São Paulo foi fruto da insistência de uma grande amiga que tenho lá, Salete Soares, uma senhora natural de Luiz Gomes, que me hospedava em minhas férias lá. Ela migrou com marido e filhos na década de 1960, era funcionária dos Correios, hoje aposentada. Foi ela que enxergou antes que eu a possibilidade de me dar bem na capital paulista, ela profetizava que eu trabalharia com Bóris Casoy desde que entrei para a faculdade. Trocávamos cartas sempre e deve ter se baseado na redação dessas cartas para acreditar que eu teria chances na maior metrópole do país. Obrigada pela atenção, Fabiano, obrigada por oportunizar que o processo que me fez chegar até aqui fosse do conhecimento do seu público, nada foi dito para me vangloriar, mas para servir de exemplo e motivação para servir de incentivo a quem duvida de si, de que pode render tanto aqui como em qualquer grande centro, pois a leitura em demasia me levou a lugares e pessoas nunca antes imaginado e tem me dado o suficiente para ter uma vida confortável sem dever nada a ninguém. Disponha.

 

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