SAUDADE DE MARILEIDE
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Mara e Marileide. Foto: Contigo |
O domingo, 27
de janeiro de 2013, amanheceu triste. Notícias vindas da região Sul do Brasil
diziam que uma tragédia numa boate levara mais de duzentos jovens a óbito.
Na
zona norte da capital paulista, passava pouco das 6 horas, quando Marileide
Felix da Silva veio a óbito, aos 61 anos de idade, após idas e vindas ao Hospital
São Camilo, próximo da sua cobertura, na Rua Voluntários da Pátria.
Encerrava a
história de uma baiana vitoriosa, que fez sucesso como empresária artística e
compositora, na voz de sua cria, Eliemary Silva da Silveira, a Mara Maravilha. Talvez Marileide tenha feito mais de cem músicas com repertório infantil.
No noticiário que cobre a indústria de
entretenimento, registra-se o falecimento da mãe da Mara. Mas Marileide Felix
tinha outros atributos além de ter colocado no mundo essa filha única. Foi quem
primeiro viu na filha, ainda criança a tendência para artista, algo que ela
tentara e que não teve o estímulo da família, especialmente do pai, comerciante
que não via com bons olhos a filha que, às escondidas, se apresentava cantando
em circos que passavam em Itororó, interior da Bahia, onde moravam.
Uma vez, Marileide
cantou e venceu concurso em praça pública em Itabuna, promovido por um
radialista, era o Titio Brandão Show. Estimulada, inscreveu-se em outro
concurso cantando no famoso Circo Nerino, vencendo novamente e recebendo
ameaças do pai, que a colocou para trabalhar com treze anos, tomando conta de
um mercadinho dele. Ali, não encerrava o sonho de Marileide. No ano seguinte
conheceu Eliezer, com quem viria a se casar e ser mãe aos dezesseis anos, daquela
que viria a ser batizada por Silvio Santos como Mara Maravilha.
O casamento
durou pouco, porque Marileide percebeu que o rapaz rico com quem se casara era
metido a boêmio, já era pai solteiro de Rosilda, que ela trouxe para sua casa.
Vencendo ações na Vara da Família, um processo dolorido especialmente para
Mara, na primeira infância, Marileide recebeu ajuda do pai e tempos depois
mudou com os pais para a capital, Salvador, onde Mara, estimulada pela mãe,
lançou carreira artística ainda criança, apresentando programa de televisão,
gravando discos numa grande gravadora, a Emi, e depois o maior passo, São
Paulo, convidada por Sílvio Santos.
Na capital
paulista, enquanto Mara brilhava na tela da TV, Marileide atuava nos
bastidores, acompanhando cada passo da carreira da filha e da vida pessoal, então
adolescente. Marileide sempre procurou seguir os bons conselhos que ouviu de
Silvio Santos, de como conduzir a carreira da filha dali em diante. Muitas
vezes incompreendida por alguns profissionais da segunda emissora em audiência
no país, Marileide, de origem simples, sem nenhuma graduação, atuava na
logística da produção do programa Show Maravilha, investia o lucro em imóveis e
na carreira da filha, que passou a se apresentar por todo o país, com um elenco
de crianças e adolescentes, depois com banda e uma super estrutura com um staff
de produtores, assessoria, bailarinos, coreógrafa, iluminador, operador de som,
seguranças, enfim.
Porém, algo
que chamava a atenção era a disposição em colaborar com outros talentos,
descobri-los e incentivá-los, abrindo espaço no Show Maravilha, para quem não o
conseguia na grande mídia.
Quando Mara ganhou
um programa na televisão argentina, não perdeu tempo, levou artistas do Brasil
para se apresentar no programa, exibido em diversos países da América do
Sul.
Sua
colaboração com esses talentos iam, em alguns casos, além do espaço para cantar
no programa, como fornecer passagens aéreas e até colaborar doando ou
emprestando figurino para alguns artistas. Fora os conselhos de como tocar a
carreira, como escolher a equipe, pedia que obedecessem empresários, a ter
disciplina, comportamento, saber lidar com o público, a não se envolverem com
drogas e por ai. Quando essas pessoas atingiam o ápice, Marileide vinha com
conselhos sobre como investir bem o dinheiro e alertava sobre as amizades, como
lidar com esses ganhos diante de ‘amigos’ e ‘familiares’ que surgem na vida de
uma pessoa bem sucedida. Na febre do pagode, reclamava dos pagodeiros que
adquiriam carrões. Dizia que em primeiro lugar, investissem em imóveis,
especialmente na casa própria.
Quem seguiu
seus conselhos deve estar agradecido.
Marileide
também ajudou a formar profissionais para atuarem em televisão, gente que
chegou até ela como um assessor ou assistente de produção e ela ensinou o
caminho das pedras e hoje essas pessoas dirigem programas, como Vildomar
Batista, Paulinho Lima, Carlos Cesar Filho, o Cesinha; Valter Tavares, dentre
tantos outros.
Vi muita
gente estourar estimulado por Marileide e Mara, mas tenho um exemplo que
assisti bem de perto. Trata-se de Daniela Mercury, que até então se apresentava
em barzinhos e circos na Bahia. Tanto Marileide como Mara viam naquela moça um
talento a ser explorado. Em 1991, ano em que passei a trabalhar com Mara,
Daniela Mercury vinha semanalmente de Salvador se apresentar no programa da
Mara. À época, ela tinha um LP, do selo Eldorado. Algumas vezes, Marileide
conseguiu passagens para ela, sugeria roupas, reclamava quando repetia. Daniela
Mercury era uma pessoa completamente desconhecida nos camarins. Os demais artistas
não a conheciam.
Pois bem, uma
vez, durante reunião na Emi, no Rio de Janeiro, Marileide e Mara passaram a
falar sobre Daniela. O diretor que participava da reunião, não dava ouvido ao
assunto. Elas insistiam. Chegou um momento em que Marileide foi longe. Disse
com todas as letras: “Traga essa garota para a Emi, que ela vai estourar. O
Brasil todo vai conhecer o talento dela”, para encerrar o assunto o diretor
falou: “Marileide, essa Daniela Mercury é cantora de um disquinho só”. Nunca
esqueci disso. Pouco tempo depois, por ironia do destino, esse diretor saiu da
Emi e foi para a Sony. E sabe o que aconteceu? Contratou Daniela Mercury. O
resto da história todo mundo sabe.
Eu poderia
contar aqui diversas situações que testemunhei como essa. Mas a saudade da
Marileide está apertada e vou ficando por aqui.
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