Concurso para jornalistas
Nosso tempo: de livros, fatos, gente e lugares.
Muito bom esse tempo que vivemos de promotoria em defesa do povo, para fiscalizar e exigir o cumprimento das leis. Acompanhamos com satisfação a publicação de concursos e mais concursos, na esfera do poder público, dando oportunidade para aquelas pessoas que conquistaram seus diplomas por próprios méritos, muitas vezes em universidades particulares.
Tem coisa melhor do que concluir um grau superior e disputar as mesmas vagas em concursos, ou seja, encontrar as mesmas chances no mercado de trabalho em emprego público? Independente de parentesco, amizade, QI – quem indicou...
Maravilha mesmo! Porém, há publicação de concursos em todas as categorias profissionais, menos uma: jornalismo.
O que acontece com o poder público que contrata jornalistas para suas assessorias, apenas baseado num quesito, o chamado cargo de confiança? Como se as outras atividades profissionais também não o fossem. E o que é pior: em alguns casos, assessoria sem graduação, sem experiência nenhuma nas lides jornalísticas. Que desconhece até o vocabulário da profissão.
Nós, jornalistas, vivemos exigindo posturas da sociedade, seja de políticos, ou qualquer outra atividade profissional. Ainda mais políticos, por estes viveram à custa de impostos, pagos com dinheiro do povo.
Mas quando se trata de exigir para a classe, nós, jornalistas, talvez em nome da ética profissional, não legislamos em causa própria.
Somos incompetentes para divulgar que mereceríamos concurso público? Por que sindicatos de jornalistas não buscam solucionar a falta de vagas no mercado de trabalho, em empregos públicos através de concursos?
Sinceramente, no país de Mossoró, talvez, não há nenhum jornalista que esteja exercendo funções em assessoria, por aprovação em concurso, no poder público, em qualquer esfera, seja no município, estado, assembléia legislativa, câmara municipal, congresso nacional, justiça, universidade estadual, federal, enfim, quem souber, por gentileza, avise!
Bem, as dúvidas decorrem do fato de, a própria universidade - públicas e particulares - que forma, não promove o concurso público. E, muito pelo contrário, contrata jornalista sem graduação. Então, para que a formação? Em Mossoró, o mercado de trabalho paga os mesmos valores, independente do diploma. Estamos formando jornalistas para atuarem em outro mercado. Outros estados.
Quem entra numa faculdade de jornalismo, pelo menos no Rio Grande do Norte, tem a obrigação de saber que terá que começar muito cedo a fazer valer o QI, através de amigos no poder público, para se encaixar no perfil do tal cargo de confiança, do contrário, terá que se virar no concorrido mercado de trabalho de empresas privadas.
O que vemos diariamente nos jornais da cidade é a publicação de disse-me-disse de vereadores e, no dia seguinte, adivinhe! O próprio vereador se expõe em ligações telefônicas para os jornalistas e colunistas políticos, num jogo de desmentidos, que confunde o leitor-eleitor: não falei, não fiz, não vou dizer, não vou fazer. Simplesmente porque não tem assessoria. Que por si só, já evitaria esses desentendimentos.
Quando uma pessoa pública não valoriza seu mandado, vale qualquer assessor. E cada um, tem o assessor que merece. Inclusive ele próprio. Tem quem mereça um açeçor – com Ç; tem quem mereça um asesor – com dois esses; e um gestor público ou legislador que sequer emprega um jornalista, jamais vai merecer o respeito devido dos veículos de comunicação, tanto quanto aquele que tem um assessor.
Ele, o político ou gestor, vale qualquer coisa, qualquer nota, qualquer foto, qualquer fuxico. É usado como moeda de informação, para a assessoria do adversário. Quando este tem.
Daí que a gente continua lendo disse-me-disse, seguido de desmentidos; a gente assiste o que aconteceu na semana passada. Políticos que pegaram um vôo em Brasília e foram vetados num palanque, onde suas assessorias falharam e feio, porque poderiam ter evitado expô-los à execração pública. Foram barrados no palanque. Ao vivo e em cores, pela transmissão de televisão.
Naturalmente, que após o episódio, tentam justificar o veto, creditando a culpabilidade a alguma assessoria: A ou B.
Também colocada lá, pelo tal quesito cargo de confiança.
Jornal PÁGINA CERTA, junho de 2008.
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